VISITA VIRTUAL | FLOR.ESSÊNCIA
vídeo produzido por Anafardy e Brunê Nasato
MOSTRA
FLOR.ESSÊNCIA
2021
FUNDAÇÃO INDAIALENSE DE CULTURA, MARÇO/ABRIL DE 2021
Exposição de ikebanas de papel, minikebanas e poemas haicais, sobre a temática das flores, produzidos em 2020.
A exposição cria uma atmosfera minimalista, silenciosa e tranquila, acolhendo e pacificando as frequências instáveis que resultam dos tempos atuais.
Venham respirar esse ar. Venham se acalmar com as delicadas manifestações da presença.
A POESIA COMO CAMINHO
“Nan-In, um mestre japonês recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre o Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre as suas dúvidas. Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara do seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando o chá pela borda. O professor, vendo o excesso se derramando, não pode se conter e disse: “Está muito cheio. Não cabe mais chá!” “Como esta xícara,” Nan-in disse, “você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?” (Conto Zen)
Na base da filosofia oriental o equilíbrio é dinâmico. Não há permanência, há ciclos infinitos, movimentos opostos que pulsam. Eis que no ápice do yin (inverno/noite), surge o yang (verão/dia). Não há estação que dure para sempre.
Depois de alcançar um ápice pessoal em sua trajetória artística com suas Fiandeiras - o longo tecer, estudo, fórmula e repetição, conclusão; de experimentar a expansão de sua expressão para os espaços públicos, Denise Patrício para. Sua xícara está cheia. Recolhe-se do circuito, suspende a expressão. (respiro) . A artista e o ser pedem silêncio.
Movimento de esvaziar. Recolhida, Denise encontra-se, então, com a meditação, com as filosofias orientais, a ayurveda, o budismo, o tao, o zen... A arte da cura pede passagem, as mãos se colocam em outro movimento, experimentar a existência pelo toque, pelo gesto, a mente silenciada observa e deixa-se conduzir.
Atenta ao caminho, atenção plena. Do silêncio e da ação, lentamente (re)nasce a forma, através de desenhos mínimos e da palavra poética como caminho. Kadô! Haikai é palavra que sai. Sai sem julgamento. Observa o presente, descreve e forma. Haikai é poema-imagem. Mínimo, concreto, simples, conciso. Desenha com as letras apenas o que percebem os sentidos. É poesia na observação da natureza que, livre de conceitos, é matéria pura, matéria que se organiza, no presente, no agora...
No agora de 2020-2021, tempo de pandemia e isolamento social, tangível é o próprio quintal! Tocar a terra, as plantas, as flores para presentificar e manter serena a mente. A flor-matéria como poesia para o dia... Kadô! Caminho das flores... No encontro com as Ikebanas, Denise reencontra a figura escultórica. É poesia gestual que organiza a matéria. As ikebanas não são projetadas, são apenas gesto, um instantâneo, um respiro.... É atenção plena e não julgamento. Não há reparação, elaboração ou reflexão. É movimento que antecede o pensamento. arte para respirar.
Movida pela sua linguagem, naturalmente a artista transcende a forma clássica da ikebana e, silenciosamente, volta-se para o papel, a linha, e para seu espaço de expressão... Denise então experimenta materiais e suportes, recorta, cola, mistura planos e técnicas para conceber suas delicadas ikebanas. Elas são breves, pequenas, mínimas, mas trazem em si a primavera, pura energia de expansão.
Expansão e abertura... Ensõ!... é o circulo que se manifesta, mas não se fecha em si, celebra a beleza da imperfeição e do movimento infinito.... Expressão!... trazendo de volta a artista, com sua xícara disponível, para o espaço da galeria, para a troca, provocando e convidando o espectador à experiência da contemplação, da pureza do gesto, do silêncio e da poesia como caminho...
Aline Assumpção, artista, jornalista e acupunturista.
GALERIA VIRTUAL
OBRAS QUE INTEGRAM A MOSTRA, 2021